Relembrem um artigo que publiquei no Observatório da Imprensa quando a Petrobrás decidiu "furar" toda a mídia como forma de "desmotivar" a busca desenfreada pela suíte e se defender em tempos turbulentos - que nem vieram, vejam só...
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/o_furo_a_cpi_e_o_gerenciamento_da_crise
BLOG DA PETROBRAS
O "furo", a CPI e o "gerenciamento da crise"
Por Vagner Salustiano em 16/06/2009 na edição
542
Como responsável pela Comunicação Social de uma empresa de serviços públicos
com mais de 1.200 funcionários e quase 50.000 clientes, não estaria fazendo meu
trabalho se não refletisse sobre a polêmica criação do blog da Petrobras, o
Fatos e Dados.
Primeiro, é preciso explicar o conceito de blog. A idéia de manter um diário
(de anotações, de bordo) ou livro de pensatas (pessoais, culturais ou
profissionais) disponível em tempo real na rede mundial de computadores era
impensável apenas alguns anos atrás.
É uma idéia revolucionária e cada vez mais adotada porque coloca o autor como
fonte direta de informações, sem a intermediação dos meios de comunicação
tradicionais (jornais, revistas, rádios, TV e os próprios sites noticiosos).
O blog da Petrobras funciona como um
registro das solicitações dos
repórteres à Assessoria de Imprensa da empresa. A justificativa por trás da
iniciativa, mais ou menos explícita, é mostrar diretamente à sociedade, em
detalhes, a resposta dada, para evitar distorções ou omissões de jornalistas
supostamente mal intencionados. (Na prática, acredito, será uma ferramenta de
metalinguagem, lida apenas por outros jornalistas.)
Uma "lógica" irracional
Daí surgiu toda a revolta e polêmica. O equívoco da Petrobras (e, sim, a
empresa está
errada neste aspecto!) é seu
timing; é publicar as
respostas
antes de os jornais publicarem as matérias. Pesquise no Google
o termo "blog da Petrobras" e veja a imensa polêmica causada pela
iniciativa.
Mas o que não se percebeu ainda é que o blog não é uma declaração de guerra
aos jornais (sejam eles éticos ou antiéticos com a empresa no tratamento da
informação recebida). O blog é, de fato, uma iniciativa de
gerenciamento de
crise, a tentativa da Petrobras de interromper a "
lógica do furo",
tão nefasta para órgãos públicos e empresas, em um período de CPI no
Congresso.
Apesar de não ser ilegal e de não fazer a menor diferença para a imensa
maioria da sociedade, a iniciativa é
antiética do ponto de vista do
jornalismo (e da relação das empresas de comunicação com as assessorias de
imprensa em geral), pois esvazia a grande mola propulsora cotidiana da
atividade: a guerra pelo "furo".
Sempre considerei a "lógica do furo" bastante irracional, pois o cidadão
comum não lê dois jornais diferentes todos os dias. (Notem que os "furos" ainda
são reservados como manchetes da versão impressa e só são publicados nos
respectivos sites já de manhã, quando o concorrente não tem mais como correr
atrás.) Mas ela existe e é muito cara às redações e aos repórteres que labutam
para se destacar na área.
Certo ou errado?
Ora, se não há pedido de informação individual (e, portanto, sigiloso e
eticamente
embargado aos demais órgãos de imprensa até a publicação da
matéria), não há furo. O repórter do jornal concorrente acessa o blog, toma
conhecimento da pauta trabalhada pelo colega e faz a mesma matéria, no mesmo
dia.
Durante a CPI a ser instalada a qualquer momento, haverá dezenas de pequenos
vazamentos de informações, realizados por este ou aquele deputado, da
base ou da oposição, sempre querendo comprometer ou limpar a barra da Petrobras
(e, portanto, do governo federal).
Os repórteres vão de digladiar atrás destes "furos", que serão publicados com
estrondo, "manchetados", e depois analisados, repercutidos. O que vem
contra (a acusação) é sempre mais interessante, mais "quente". E, como
numa guerra, provavelmente a História (sim, só a História pode inocentar um
acusado via grande mídia) nem sempre vai comprovar estas
acusações.
O objetivo do blog é evitar tudo isto. É contra esta lógica nefasta que nós
mesmos, jornalistas, criamos e alimentamos, que o famigerado blog da Petrobrás
foi concebido, na cabeça de algum gênio do mal (e da Comunicação) da alta cúpula
da semi-estatal. Só a História vai dizer se ele está certo ou errado.